terça-feira, 6 de julho de 2010

O toucão do mundo! (precipício invertido)

"e tem nego atirando só
pra ver o buraco que
a bala faz."
(ouvi no rádio)

enquanto que a favela tremilica
as luzes
alguns dos igrejões
acesos quasimodam.

Iluminados rasgam o toucão
de banho
que a terra inteira usa.
(pra cobrir cabelos)

gotejam urubus no topo
dos outeiros
bicando os azuleijos,
agourando o muito.

enquanto a barda berra
em Allegro Vivace
espanca com
meiguiçe seus tendões
de aço

e piscam,tremilicam
as luzes dos postes
ao tempo que o
sereno me lambuza
a vista.
(vida?)

graffites,monumentos
me olham de soslaio
mas nada impede a
barda de soprar na
gaita.

e sempre que ela toca
um tufão me arrasta em
fluidos rodopios pra
touca do mundo.

salvo por favelados
sou bem hospedado
e até me dão café
erguendo belas prosas.

nos Olimpos cariocas
cegos soltam pipas
e nunca se encabulam
do que esperar delas!
 

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Curral dos Ilustres 1 -Ralph Steadman
















Ralph Steadman é ilustrador.





Seu trabalho mais importante é o no doentio livro "Medo e Delírio em Las Vegas,uma jornada selvagem ao coração do sonho americano,1971"





do americano Hunter S. Thompson.
Este livro movimentado por personagens delirantes em atitudes
entorpecidas e violentas (mtas vezes contra si mesmo) foi publicado em artigos na Revista Rolling Stone e criou o jornalismo Gonzo.
O jornalismo Gonzo é uma maneira subversiva de operar no jornalismo.Imprimindo impressões próprias,experiências particulares e espírito de aventura.É literatura,como só se fez no jornal durante o período da contracultura.
Ralph Steadman em suas ilustrações aprisiona toda a agressividade que o livro sugere em suas poucas mas intensas páginas.
longa vida ao ilustrador,pq gostamos de ler mas quando tem figura é sempre melhor.




domingo, 4 de julho de 2010

aos túneis da minha cidade e aos carros que passam neles.


neste túnel que me vaia
me vou.Perceguido por
um U infinito.Eu bisci-
cleta,eu pedaladas e
eu mosquito (lambedor
das graças das
lâmpadas!)Sigo só

caçando eurekas.

alguns carros me
dão manchas na
cueca outros me
dão lambadas ver
tiginosas e tinjo
com minhas tripas
as paredes já mi
jadas deste túnel.

este túmulo
estupendo
paralítico
frenético
nevráugico.

pensamentos sobre a bunda do capeta me atordoam.Tumultuam.ME ENGARRAFAM,ME ESTACIONAM,ME DIRIGEM A REFLEXÃO sem que
eu o deseje.Sinto em meu peito
estacadas do pilão do universo.
Despejo sílabas cirandeiras que
os uivos maquinais extinguem
e na garganta das pedras a
digestão espacial range.

longe ainda do suor solar
eu sugo das lampadinhas
que os motorizados têm
graças a gasolina que
pulsa em suas veias
do mesmo jeito que
os motorizados pulsam
nas vias venais da cidade!

já diria Jim caviezel:
tudo é viceras e óleo dísel.

eis a bela miragem

bela miragem me-
gera.Que beira a
ribeira quebrada
e almofadissa
toma a mim como
premissa e faz de
ilusão uma prima
vera.Bela miragem
me gela.
Mente mas
gera sementes,
brinca mas diz
a verdade to
ma por berço
a cidade e por
madrinha minha
mente...Geodésica ilusão fluente
... rocha arrolada por cremes,
rolhas,plantas,cor.Sais do oceano,Oriente.
Oasis que banha
o Complexo do Alemão.Soberba de
preto pobre!Belas mulatas de lajes.

inspirado em Rebecca Horn e em sua anarquia.


samba que alude ao idílio

eu queria mesmo a -suíte paulistana-
de hermeto pascoal soando em mim
ressonando magnética pelas en
trâncias.Perambulando-me os tubos
revirando me
em contorcionismos.

eu
bem
que
queria trepado a um
trapézio que minhas secreções
proteicas a que aludo como: unha.

retintas crescessem para dentro
dos dedos.Cadaverizando a mim.
adocicando e adoecendo-me.Des
pencando me universo a fora.Sa
tírico satelite satânico!

eu queria o estímulo dos homem-bomba.
seu efeito,som,luz-clarevidência.Pois querer
causa amarga demência

terça-feira, 1 de junho de 2010


2

Mas liga não,mais tarde medica-se,derrama-se cachaça no ferimento e no ferido.Nos meus devaneios sempre se despeja cachaça,nem que seja para riscar fósforo em seguida.Um dos postes destrambelha à minha esquerda,uma fagulha me queima o rosto.O que é uma fagulha para quem


vive o incêndio?
vou deixar mostrando assim:
só o asfalto indo para trás de nós.

Eu inventei o Le Parkour sobre carros e mesmo assim sou triste.Não que eu gostasse que outros aprendessem a pedalar no ar como eu acabo de fazer,não.Sou triste porque gravo vídeos como esse me exibindo física,social e mentalmente.Sou mais um emo,esse gesto que meu braço faz,apontando a lente da objetiva para meu rosto é emo.Sou emo também por ser uma tendência efêmera,algo que não se sustenta em si,parasito o motor dos outros.Me movo na gasolina alheia.Sou emo porque todos os instrumentistas das bandas de emo sempre dizem que não são emo,e acaba que o emo fico eu sendo!

Olha,eu não desenvolvi essa forma de viver.De viver sempre viajando,entregue ao deslocamento constante,como sou de família circense tenho nas veias a vontade de ir-me.
Surfando lombadas,tirando tinta das ambulancias eu sou o último dos piratas urbanos!Mesmo que não muito bem da perna.

Vejam : deitada no banco de trás - uma grande garrafa de conhaque.É o que calará as fisgadas de minha perna.Me acocoro e as canelas rangem,a lataria daquela blaiser parece que não há muito tomou uma dose de cera.Tenho que ir com cuidado.Os chãos sempre a se mover,é preciso tino...
e tonus e...

{Huup!
Owçh!
Vapo-Vapo,Vultsh,trrrrrrrrr....caklash!}

- De onde esse cara veio,porra?!
pi.
(o vídeo retorna ao seu começo.E faz o mesmo quando chega ao fim na tela de um dvd que balança na blaiser.Chacoalha com o caminho e com os propósitos do motorista.)

a blaiser escura e monocórdea ronrona maquinal
a voz do emo no vídeo sofre interferência mais que
direta do transito infernal que o circunda.
mas ele e seu corpo são tão intrépidos que afligem,
machucam o senso comum do motorista da blaiser
que mal entende.E desse não entender cresce um
medo e desse medo uma inveja!


(o motorista retoma o vídeo sempre que ele acaba)

o motorista tem espasmos reflexivos aos
movimentos que o garoto executa nos vídeos.Piruetas,
passadas longas,estranho,estranho,estranho.

o motorista vira o corpo para trás e mete o punho no rosto
do rapaz que já acorda cuspindo uma bolha de sangue!
- de onde você vem?Como que faz isso que você faz?


1
Pulo sobre o capô dos carros que passam em aceleração constante.Salto de Picassos para Unos.Uns motoristas deixam que o susto lhes dê uma leve desgovernada.Sempre pensei em explorar o espaço com esses rodopios livres,
mas nunca havia tentado.Não assim,no teto de um ônibus,no teto de outro ônibus e com uma passada de elefante pousando num passat.
Infinitos carros trafegam,não faltará quem me conduza.Aos doze,pulava ondinhas no leblon,hoje voo sobre máquinas em alta temperatura,denso movimento e velocidade desembestada.
O risco da morte é muito mais parceiro neste esporte que pratico do que em outros,ping-pong como exemplo.Merda de quebra-molas.Com o risco da morte se acostuma desde o berçário e é comum também achá-lo comendo picles nos botecos do Flamengo.
Rasgo o céu com piruetas,desvio a nuca das lâmpadas dos postes elétricos e pouso em parafuso sobre um capô de uma kombi que me leva para trás como um corcel-esteira;60,80,120km/h indo de costas,o vento frenético me ergueria a saia se uma eu usasse.Cruzo as pernas,abro os braços sentado no sentimento de mobilidade.Estou no seio do efêmero,atravessando distâncias,cortando o caminho do vento,inundando esse ar brumoso e espesso da minha presença.Não sei se contrasto se reforço.Se me encaixo ou se disto.Só sei sentir
a graça de infinita transgressão espacial que se dá.
As paisagens se sucedem com abissal frenesi,perspectiva impressionista ao sabor do mundo da rua que é o mundo das máquinas.Porque lugar de gente é em casa ou é em calçada.Meu joelho fisga desde o começo mesmo,não devo dar atenção a esses clamores.Eu não tenho calçada e por conseguinte também não tenho casa e por me encontrar deslocado que eu resolvo me lambuzar de deslocamento e me entregar a movimentação constante.Huupah.





"eu não tenho onde morar
é por isso que eu moro na areia."





No topo desses carros,amiguinho.Eu sou e ia e fui simultaneamente.Nova pirueta,ajoelha-se no peugeot e deixa o joelho morrer de reclamar.Arre.Arreégua!