domingo, 4 de janeiro de 2009

Mandinga pro fim do mundo,doomsday hocus pocus,por quem entende de mandinga:



Eu sei.

Mais ninguém o sabe.

Mas eu sei.

Me estão tremendo as mãos ao segurar os dezesseis búzios. Como se não o fizesse a tantos anos.

Mas preciso jogar uma outra vez. Ogum que me perdoe, mas preciso confirmar pela terceira vez.

- Ogum Patacuri meu Pai. Agô! Perdoa esse filho. Mas se eu fui feito Babalorixá pelo senhor e tua força, meu Pai, respeite minha descrença perante essa sua revelação. Ogunhê! Ogum Patacuri Alá Megê!

Balanço novamente as mão trêmulas, fechadas em concha, formando casulo para as pedras da confirmação de Orunmilá. O estilhaço sonoro desses búzios que se batem, antes me parecia sereno, agora me soa como trovoada.

Mas lanço-lhes ao meu jogo. Meu jugo e de todos nós se lançam com eles. Orunmilá me petrifica o peito. Gela a espinha. A mensagem do senhor Ogum está confirmada. Como ordem do Orum, Olorum decreta que não mais se dê espaço aos homens. Cada espírito seguirá a força de seu criador e os que não se iluminara cessarão de existir.

“É o juízo final... a história do bem e do mal...
Quero ter olhos para ver... a maldade desaparecer”

Dentre todos os calafrios e aproximações espirituais que me envolvem e tonteiam perante a Aláfe que Ogum me deu, é Nelson Cavaquinho quem me acalma.

“O sol há de brilhar mais uma vez... a luz há de chegar aos corações”

Não há tempo a perder! Os ilús dos céus já estão batendo. Posso ouvir esses tambores dentro do meu peito.

Guiné, Alecrim, Alfazema... Espada-de-São-Jorge, Abre-caminho, Saião...
Comigo-ninguém-pode, Bejuim, folha de romã... Peregum, erva cidreira, Arruda!

Todas as ervas serão necessárias com a ajuda de Ossãe...

- Dum dum dum dum dumtiriri, akinijô afáueri,
Akinijô auórekàn, axé con abô, Ossãe eua!

Galos pretos, galinhas d´angola, frangos e pombos...
Serão precisas todas as oferendas para meu pai Ogum... e para o senhor Exu! Bará ô!

- Embarabá ô agô mojibá, unbom axé,
Embarabá ô ago mojibá, yamadê acoelê
Embarabá ô, Exu ê mojibá, Elegbara ê Exu unbom axé!

É preciso fazer a maior macumba de todos os tempos. A curimba do juízo. Oxalá terá de ouvir meu penar. Queimem-se as pólvoras, vou agigantar meu ebó! Com a itába, ervas de Ossãe farei minha cabana, untada em dendê. Ogum Senhor das Hóstias assento ao meu lado empunhando a espada mais afiada. Exu na porta de entrada para a minha defesa.

É escurecido o mundo. Eu sento-me em minha cabana e rezo para Oxum, que com seu mel, convença mais uma vez a Olorum que deixe seus filhos perecerem em paz.

- Orunmilá mamãe, Orunmilá mamãe,
Taladê, talá boriô. Oxum agaó, comamã deô,
Até undi isigu abá omi, Oxum fideri godô.
Yeyê ô!

Chove... é o fim. Não há mais o que se possa fazer. Todos estão por aí como em qualquer outra chuva. Não adiantaria avisá-los. Mesmo outros Babalorixás não me acreditariam... porque Ogum avisaria somente a mim? – perguntariam... Não há mais o que fazer... estão todos mortos... que minha macumba proteja minha luz...

Que todos os seres que fizeram o bem vejam o sol...

“Do mal... será queimada a semente...
o amor será eterno novamente...”

Que Olorum tenha pena de todos nós.






Pedro Tomé


Congresso Internacional do Medo


Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.


Carlos Drummond de Andrade

nada é inofensivo




dica do amigo Hugo.