terça-feira, 30 de dezembro de 2014

envitation



Megumi disse que não.
Que nesse bar só cola bandido
e desligou.
(ainda que permanecesse na minha mente.)

Megumi garantiu que não me chamaria
mais de fracassado, e que limparia sua
piscina para tolerarmos o verão.

ela fala que ama minha voz,
eu tenho adoração por seus pés.
Mesmo assim, Megumi não 
consentiu que eu cantasse ou dançasse 
para eles

Megumi disse que não.
Que aquela espelunca não aspiraria mais
o ar de sua graça 
e deslizou.

Deixando emergir um silencio dramático.
Os que convivem com Megumi a chamam de apiário
ela pensa em sorrir um sorriso automático
que é equivalente a um piano em um opiário. 

Megumi confunde Wagner Moura com Wagner Montes
e não quis ir esta tarde ao cinema.
Megumi não anda mais comigo porque 

olho fundo demais no olho

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Sol em mim - D.H Lawrence



Sol em mim


Um sol nascerá em mim
Hei de lentamente ressuscitar
Já a brancura de falsa aurora sobrevoa meu oceano interior.

Um sol em mim.

E um sol celeste.

E para lá disto ,o imenso sol atrás do sol,
o sol de distancias imensas, que dobram-se juntas
contidas nas genitais do espaço vivo.

E mais além, o sol dentro do átomo
que é deus no átomo.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Lucrécio Poeta - de Marcel Schwob, do livro "Vidas Imaginárias" - tradução Dorothée de Bruchard,editora Hedra








. . . Em meio `a morte total e necessária, ele vislumbrou claramente a morte única da africana, e chorou.
        Sabia que o choro tem origem num movimento específico das pequenas glândulas que ficam sob as pálpebras e são agitadas por um cortejo de átomos vindos do coração, quando este mesmo coração é tocado, por sua vez, pela sucessão de imagens coloridas que se desprendem do corpo de uma mulher amada. Sabia que o amor é causado pela simples expansão de átomos que querem se unir a outros átomos. Sabia que a tristeza causada pela morte não passa da pior das ilusões terrestres, pois a morta deixara de ser infeliz e sofrer, enquanto aquele que pranteava se afligia com os próprios males e pensava sombriamente na própria morte. Sabia que não resta de nós nenhum duplo simulacro para verter lágrimas sobre o próprio cadáver estendido aos seus pés.
Mas, conhecendo perfeitamente a tristeza e o amor e a morte, e sabendo que são imagens vãs quando as contemplamos desde o calmo espaço em que é preciso encerrar-se, seguiu chorando, e desejando o amor, e temendo a morte.
        Eis porque, ao regressar `a casa alta e sombria dos ancestrais, aproximou-se da bela africana, que cozinhava uma beberagem num pote de metal sobre um braseiro. Pois ela, por sua vez refletira, e seus pensamentos haviam remontado `a misteriosa fonte de seu sorriso. Lucrécio contemplou a beberagem ainda fervente. Ela foi clareando aos poucos e ficando igual a um céu turvo e verde. E a bela africana balançou a fronte e ergueu um dedo. Então Lucrécio bebeu do filtro. E em seguida sua razão sumiu, e ele olvidou as palavras gregas do rolo de papiro. E pela primeira vez, estando louco, conheceu o amor ; e durante a noite, por ter sido envenenado, conheceu a morte. 



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

última página do livro "A máquina diferencial" de William Gibson e Bruce Sterling. The Difference Engine,1991. Traduzido por Ludimila Hashimoto. Editora Aleph.


-Sou?- Ela ergueu o espelho e fitou-o.
No espelho, uma cidade.

Londres,1991. Dez mil torres, o zumbido ciclônico de trilhões de engrenagens a girar, todo o ar numa escuridão rompente, em uma névoa de óleo, no calor do atrito das rodas emaranhadas. Negros pavimentos sem emendas, incontáveis córregos afluentes para o curso frenético da malha perfurada de dados , os fantasmas da história soltos nesta necrópole ardente. Rostos da espessura do papel ondulam feito velas, torcendo-se, bocejando, tombando pelas ruas desertas, rostos humanos que são máscaras emprestadas, e lentes para um Olho esquadrinhador. E quando determinado rosto serviu a seu propósito, ele desintegra-se, frágil como cinza, explodindo numa espuma seca de dados, os fragmentos e as partículas que o constituem. Mas novas texturas de conjecturas vão crescendo nos núcleos ardentes da Cidade, ágeis e incansáveis fusos arremessados de laçadas invisíveis aos milhões , enquanto na quente treva desumana os dados derretem e misturam-se agitados pelo maquinismo, até formarem um esqueleto de pedra-pomes efervescente, mergulhado numa cera onírica que modela a carne simulada, perfeita como o pensamento . . .
   Não é Londres . .  . e sim praças espelhadas do mais puro cristal, as avenidas são relâmpagos atômicos , o céu um gás super-resfriado, enquanto o Olho persegue a própria visão através do labirinto, saltando fissuras de energia que são causa, contingencia, acaso. Fantasmas elétricos são lançados a existência, examinados, dissecados, iterados infinitamente.
   No centro desta Cidade, uma coisa cresce, uma árvore autocatalitica, em quase-vida, alimentando-se por meio das raízes do pensamento da rica decomposição de suas próprias imagens vertidas, e ramificando-se, por uma miríade de galhos-relâmpago , para o alto, rumo `a luz oculta da visão,
         Morrendo para nascer.
          A luz é forte,
         A luz é clara;
         O Olho por fim tem de ver a si mesmo
        A mim . . .
        Eu vejo:
        Eu vejo,
        Eu vejo,
        Eu
           !



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

lampreia





Feito a muleta eu estarei sob o seu sovaco excluindo o momento que tudo doa mais compreensível que o assobiar de um pipoqueiro, só me dou alta ferido em batalha. Olhos de cimitarra, sentada sobre minha mão danação das visões, que instigam contorções aos formatos.
Fantasma de teatro ou
cachorro de mendigo levo você na bruma.
Inepta xilogravura do Marlim que jamais permite se pescar sem lançar espírito e lamina e afeto sobre o barco  a vela requenguela.
O som anterior ao som mais uma vez desfibrila e recauchuta, meu amor ,as ondas do rádio. E água na radiação!
Água, meu radiamante!
Égua!
Henfil.
Enfim.
           
            Henfil rascunhou caminhadas e Coltrane é manifestante, ouvide Nakatini Serenade ouvidos de Nakatini Serenade , olhos de cimitarra e um encostar pórtico. Artico – It's such an icy feeling, It's so cold in Alaska
 It's so cold in Alaska, It's so cold in Alaska …

Barco com casco  pro Sol.
Todos poros emaranhados , pares vasos intercomunicando, a espessura das peles  em movimento molhadas, as cordilheiras de dentes, beijo, os pavimentos de tempo purulentos boiam não submergem.
Escorregadios incontroláveis já que música dentro de 
música.

linguas de atracadouro










*no papel do Fantasma de Hamleto,incidentalmente  " Stephanie Says", do Velvet Underground.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

alumínio

carteiro no cinema
com esposa grávida

devora um bolo de
chocolate embrulhado

em papel laminado.