sábado, 7 de janeiro de 2023

Cronica de ano novo 2023

Crónica de ano novo 2023

 

26.12.2022

 

18:44  ZAP DE MARCELLO PEP:

 - Aí 

tá afim de ir pra posse?

Acho que consigo vaga num bus do PT. 

 

ZAP MEU PARA MARCELLO PEP 

- Caralho! Qdo? hahaha


ZAP DE MARCELLO PEP:

-  Sai dia 31 e volta dia 2

 

27.12 2022

 

15:29 ZAP MEU PARA MARCELLO PEP 


- Ae, me confirma aí. Fiquei animado.

Bora nessa parada, foda-se.

 

31.12.2022

 

6:00 -A ansiedade complicou meu sono. Acho engraçado que, nas noites em que não consigo dormir, eu consiga acordar ainda assim.

Pus em prática algumas ideias de lanche: 

 

(Mas a ideia de escrever um diário de viagem, só ponho em prática agora. 2:51 do dia 04.01.2023. Espremendo gotas mnemônicas deste bastidor retrospectivo.)

 

Um pão de forma especial embrulhava duas rodelas de salaminho engraxadas com requeijão barato de péssima qualidade, e citarei sim a marca para que tomem vergonha e melhorem no futuro.( Evidentemente, no caso pouco provável de que eles venham a ler esse texto.): “SUPREMO.” Formando alguns sanduíches.

Uma garrafa de vinho argentino barato, um saquinho de amendoim sabor mostarda, um pacotinho de cookies nestlé e um suco de laranja, que com as cascas eu fiz um doce.

 

O livroTrópico de Câncer, que permaneceu intocado na mochila ao longo dos  1.167,1 kms.

Um caderno para escrita, um caderno para desenho. Meu travesseirinho Fom de pescoço (ou Cu, como dizem os franceses.) E, uma velha e surrada camisa de pijama que uso para cobrir o rosto contra as luzes.

Sem muda de roupa, pois seria um bate e volta. 


Passei o ano dizendo que iria ver o show da Pabllo Vittar na posse do Lula, mas parecia pouco provável que eu realmente fosse. Entretanto, as

 

7:00 - Saí de casa, fui até o ponto do 422. Cruzei com um senhor passeando um cão. Quando pensei em lhe desejar um feliz ano novo, ele me deu Bom Dia! 

Então, eu todo me atrapalhei, e gaguejando lhe devolvi o cumprimento, acrescentando o comentário sobre a data especial.

 

7:40 - Desço na Araújo Porto Alegre. No 422 escutava, pelo Soundcloud um podcast francês sobre a banda psicodélica The 13th Floor Elevator chamado Frequence Parallele Ep.5. Apesar de não entender nada do que diziam, tocavam umas canções do conjunto que complementavam muito bem o visual da cidade do Rio de Janeiro naquela última manhã de 2022.

 

7:45 - Busco o ônibus, qual será? Ao longo da rua toda até o Theatro Municipal, estão estacionados varios ônibus, e ao seu redor pessoas usam camisas vermelhas, bonés do MST, seguram cartazes com Bolsonaro e os filhos atrás das grades, carregam malas e mochilas.

No grupo de Zap BSB-POSSE-LULA não havia nenhuma indicação sobre que onibus tomar. Perguntei para varios motoristas se meu nome estava na lista, não estava.

 

8:00 - Marcello e Clarissa chegam. Também estão perdidos. Ele fuça a Araújo Porto Alegre perseverante.

Grupo de Zap BSB-POSSE-LULA : - é o onibus 11, onibus da cultura!

Vou até o onibus de número 11, e pergunto ao motorista se meu nome está na lista, não estava.

Grupo de Zap BSB-POSSE-LULA: -  é o 13, onibus da cultura!

Marcello Pep para o grupo de Zap BSB- Posse-Lula: - é o 11 ou o 13?

Pergunto ao motorista do 13, meu nome também não consta nesta lista. Entretanto o de Marcello e Clarissa estavam. 

Logo, um homem se aproximou de chinelos e regata, se apresentou como coordenador do onibus da cultura, o 13, e explicou o motivo de não ter conseguido orientar as pessoas no grupo de Zap: Havia acabado de ser assaltado por tabela na Rio Branco. Passou um carro e anunciou o assalto para alguém, quando eles perceberam que ele entendeu o anúncio, acrescentaram um maldito - e voce ai também, passa o celular! E foi desta forma que Paulo havia ficado incomunicável com o grupo que coordenaria até Brasilia.

 

8:15 - Surge um simpático trio de irmãos. Marcello havia dito que chamou seu grande amigo Yuri, e que este levaria seu irmão Matheus. Só que, além dele, levaram um outro irmão, um pouco menos novo,o divertido João Pedro. Estávamos todos felizes, mas João parecia relutante, mesmo indo acompanhar seus irmãos até ali, pensava em sua namorada, e não estava completamente decidido sobre esta viagem da Cinelândia até o Planalto Central.

Até que eu, ou o Marcello lembrou da proximidade da possibilidade de estar num show da Pabllo seguinte à posse do Lula. Foi assim que João Pedro encontrou coragem, e pulou entusiasmado para dentro da caravana! disse que nunca tinha visto a Vittar ao vivo, e todos nos identificamos com essa falta.

 

8:30 - Um passante apressado expressou felicidade ao nos ver indo para a posse. Com um enorme sorriso pediu - dá um abraço no Lulinha lá pra mim!

E fez o gesto universal do abraço, dando tapinhas nos próprios braços cruzados.

Uma cena de imensa alegria, prólogo de muitas outras.

 

8:45 - Todos bebiam cervejas compradas numa loja americana próxima. Paulo, coordenava meu nome para dentro da lista.

 

9:00- Todos embarcamos. Comi o primeiro sanduíche. Clarissa afirmava que seu namorado era Telletubie. Muito positivo, fofo demais, extra-feliz. Buscando certa rabugice, ele retrucou que não era Telletubie o que, garota! Mas, sua camisa longa de malha mole, potencializada por uma estampa de um gatinho purpurinado não ajudaram em seu contra argumento.

As pessoas que embarcaram no ônibus 13 pareciam muito variadas. Tanto em idade quanto em etnia, mas talvez nem tanto em classe social. Vale ressaltar:

José Carlos Silva, o Carlinho e sua esposa Monica. Ele, pele morena, acima dos 40, tranças nagos folgadas sob um chapéu, voz impactante de radialista.Ela parecia mais jovem, tinha o mesmo tom de pele, sorriso amável, e uma mania de ficar repetindo em um falsete infantil:

“tá na hora do Jair, já ir embora!” Ao que alguém sempre respondia: Já foi! Ambos pareciam nordestinos e eram de Jacarepaguá. Como Charles, seu amigo muito comunicativo e simpático, que sentava atrás de Carlinho a viagem toda, junto com sua esposa evangélica Betania. Ambos muito amigáveis, durante a volta dividiram um pote de uma farofa cheirosa, que comiam na mão mesmo, em punhados.Dois músicos, um era chamado Rodolfo Cornélio, de cabelos vermelhos, lembrava o Chico Cesar, o outro com pinta de boêmio carioca,Luiz Mello, carregava numa caixa um instrumento que chamou de Viola Medieval quando alguém lhe perguntou o conteúdo do estojo.

Zelder, um sujeito simpático, que se apresentou para mim dizendo que era de Cabo Frio, e perguntando se eu era do Rio mesmo.( Só agora que me dei conta de que ele estava fazendo uma viagem dentro de outra viagem…) Uma animada e simpática senhora professora de línguas, e sua filha muito bonita, quieta e igualmente gentil. Entre outros que me lembrarei ainda . . .

 

10:00 - O ônibus começava a partir. Sobraram alguns lugares. Embora sozinho na janela, ainda estava com as pernas apertadas ,e teria que aprender a dormir com a coluna torta, e a bermuda escorregando no encosto do banco.

Partimos. Gosto de olhar a estrada. O limite da cidade se desamarrando como cadarço frouxo: Rodovia, Passarela, Outdoor e Mato.

No alto o Sol rebola. dentro do ônibus, animados cantamos nosso primeiro “Ole, Ole,Ole,Olá.”


11: 00 - Mesmo cansado, penso, estou entusiasmado demais para dormir. Decido escutar um lo-fi, mas a rádio  que tem é só pela internet. Então, prefiro ouvir no soundcloud que gasta menos, mas é preciso escolher um artista, radio ou playlist. Dos djs que eu normalmente ouço, tudo parece agressivo, ou frito, alto demais, ou rapido demais.

{ Deixo aqui esse espaço para a sugestão da pessoa que estiver lendo, de boas trilhas sonoras relaxantes para embalar um sono.}

 

12:00 - Enquanto adentrava o Brasil não podia deixar de pensar nas duas obras mais importantes construídas por mãos brasileiras em Minas Gerais: A primeira e mais importante, sendo,  incontestavelmente, o pão de queijo. E, a segunda o Romance-Conto de João Guimaraes Rosa, O Grande Sertão: Veredas.

Grande livro da Travessia e do autoconhecimento Brasil adentro. Tem como estopim, segundo estudiosos, justamente a construção da cidade de Brasília. E, contempla em sua escrita, a fala, o molejo, trejeitos, epistemes e sabenças, Geografia, Biologia, e História do Brasil.

 

15:00 - Graal, lugar ruim de comer, mas bom para se cagar.

 

18:00 -  Alguns dizem que é Caetanópolis outros chamam de
 
Paraopeba, próximo a gruta de Maquiné.(MG)

Uma imensa estátua bovina amamenta um bezerro metálico. Alguns dizem que pode ser a última vez que o ônibus pára em Minas Gerais.

-será que é a minha última chance de comer um pão de queijo mineiro??!

Clarissa responde que vale a pena tentar, porque o posto Maquiné é mais barato que o Graal.





 

18:30 -  Nos juntamos à beira da estrada para mode torrar um baseado. Marcello perguntou Porque é que eu cortei o cabelo. E complementa - Ele tinha um dread até a bunda!!!!!!!!!!!!!!

Um jovem preto, de lindos dreads, então olha pra mim de uma segunda roda de baseado a beira da estrada, onde escutavam MC Cabelinho na JBL: “ elas sabe que é o Little Hair…” E diz algo que soa como: - Eu me chamo Luis! 

Sem entender a pertinência da apresentação dele, eu digo que é um prazer. Aí, ele acrescenta: - Juro! Posso pegar a minha identidade! Todos riem. Ele aponta para o meu boné verde, com um grande L, de Luigi. Boné que eu usava celebrando a letra, que também sugeria Luiz Inacio. - Ahhhhhhh! Luigi???! 

Sim.

Prazer, Rodrigo. Teu pai jogava Mario?

Minha mãe.

 

18:45 - Um pão de queijo no bolso esquerdo. Uma chipa no bolso direito.

Andei até a estátua bovina. Tiro duas fotos. Clarissa pergunta se não tem uma placa apresentando a estátua, não achamos.

 

18: 50 - Ela diz que é de C.G. Na hora me pareceu que eu já soube dessa informação mas esquecera. Já havíamos conversado antes, numa aula do Simas no bar Madrid . Mas esse dado se afogou no mar de ram.

Aí, eu perguntei qual escola ela estudou, achando que ela falaria qualquer das outras, mas não, falou  - Aquela. Foi a resposta dela. “A mesma que eu “. O que abriu uma porteira para que nos lembrássemos de grandes professores: Marisa, Gilmar, Juliete, Carlos . . . Na hora em que coloquei minha camisa na cara para dormir, a porteira continuou aberta, e continuei lembrando de gente da minha infância no colégio: Jo da Coordenação, Carlinhos Pipoqueiro, Tinha Ana Lúcia da Biblioteca . . . 

 

18:55- Uma moça desce do onibus cheia de graça. Aponta para a estátua bovina e grita: - Ih! Olha o Gado lá!! Perdeu, Mané!!!!

 


19:00 - A chipa estava muito melhor do que o pão de queijo. Os três irmãos surgem felizes segurando uma garrafa pet cheia de cachaça mineira nas mãos.

Na volta, ficamos sabendo, pelo coordenador Paulo , que se trata de uma cachaça de cabeça. O cansaço e a calmaria da viagem começam a se dissolver no álcool.

José Carlos Silva, o Carlinho me pede um gole do meu copo de cachaça escondido de sua esposa que está sentada ao seu lado. Ele finge não ter bebido, ela finge que acredita.Em seguida solta com seu vozeirão de radialista 

- Alexandre de Moraes vai mandar prender toda a família Bolsonaro...Menos a Michelle, que dela o Valdemar da Costa Neto vai cuidar bem... Sempre cuidou!

Começa a subir um rumor divertido no ônibus. Aparentemente, um dos passageiros havia ficado para trás em uma das paradas. Mas, o coordenador Paulo já havia resolvido esse problema, realocando o coroa num ônibus da CUT. Onde, nas palavras de Paulo, teria open bar de cerveja, whisky, e até frios!



(Na foto, a chipa de Caetanópolis, melhor que o pão de queijo.)

 

23:00 - Começamos a aceitar que o ônibus não faria uma parada na estrada para celebrar a virada do ano. Com a escalada da cachaça, Marcello começou a estudar com João Pedro e Matheus, a possibilidade de colocar uma música no ônibus. A solução foi mesmo ligar o microfone de comunicação, e botar um celular tocando música perto.As canções que mais me animaram foram “Coco de umbigada”, “O cavaleiro de Aruanda” de Ronnie Vonn, e o Samba da Acadêmicos do Grande Rio, vencedor do carnaval daquele ano que ali se encerrava. Tão forte, e contagiante que não pode ser tocado até o fim, devido ao pedido de Betânia, a esposa evangélica do simpático Charles.

 

01.01.2023

 

00:00 - Zelder abre a champanhe, espirra em alguns passageiros, em seguida descarrega quase tudo no próprio rosto, uma cena e tanto!

Votos e abraços!

 

01:00 - Como um dos sanduíches e o amendoim de mostarda.Um cookie, e volto a dormir.


4:40 - Sete Lagoas, Minas Gerais - Saio do ônibus e o Sol quer nascer no frio. Estrada de chão vermelho. Sobre um montinho de pedras está a roda de baseado de Luigi, que é de outro ônibus. Me aproximo.

Reparando nas pedras, ele pega do montinho uma bem achatada e diz que ela é boa para usar de Dobrão. Eu pergunto o que que é isso. Ele responde 

- Pedra de tocar berimbau.

 

5:00 - Maravilhado, Luigi me mostra uma pedrinha transparente. Minha vez de me abaixar no montinho de pedra nos nossos pés. Peguei uma pedra branca e uma marrom achatada que lembra a forma de um verme. Chamei ela de Paraopeba, em homenagem a nossa última parada. Penso na minha amiga Elisa, que além de arqueóloga é de Brasília. Sempre que vejo uma pedra interessante eu penso em mandar foto pra ela e perguntar o nome. Acho que ela diria “Feldspato”

 

7:00 - Sonhos da Pedra Branca

         De Paraopeba para meu travesseiro

         Estrada de chão vermelho

         Como conseguir dinheiro em Janeiro???

 

 

7:10 - Pego o vinho argentino barato e coloco na geladeirinha do buzunga.

 

7:30 - Peço um dos biscoitos que Marcello está comendo. Achei que era polvilho, mas o sabor era esquisito. Fui ler o rótulo, Biscoito Papa Ovo! Ovo!!

 

8:00 - Aparentemente chegamos `a Brasíla. Chão vermelho e céu azul! Toda vez que olho para cima, ou para os lados escuto a voz de Djavan cantando “céu de Brasília, traço do arquiteto . . .” O onibus finalmente para no estadio Mané Galinha . . . sei que não é esse o nome, mas bem que podia né . . .




 

8:15 - Todos desembarcam muito lentamente, alguns com escovas de dente e pasta, gargarejo é com vinho tinto. Sirvo os amigos. Os dois músicos começam a ligar para seus contatos candangos.

 

 

8:30 -  Yuri aparece de mochila, Marcello e Clarissa explicam que será proibida a entrada na esplanada com mochilas. Leem o post do grupo que indica o que pode ser levado para a posse de Lula. Ele explica que como usa um tablet, ao invés de um celular, será dificil andar sem mochila. Todos pensamos em formas. Eu fico feliz de deixar a minha no ônibus, vou só com a bolsinha de lado.

Muitas caravanas vermelhas estão reunidas no estacionamento do Estádio. Um grupo me pede para bater uma foto deles, segurando uma enorme bandeira do PT na frente do estádio, eu tiro.

Marcello me presenteia com três cápsulas de cogumelos alucinógenos . Eu dropo a primeira. Estranha sensação de tomar remédio, e não droga . . . 




 

8:45 - Começamos a andar numa larga avenida onde muitos manifestantes caminham.  Efeito Degrade, Mar de roupas vermelhas pisam chão terracota. Muitas bandeiras do Brasil, muitas bandeiras do PT. Um sujeito vestido de Cangaceiro tem as vestes costuradas com as cores do Brasil. Toda a avenida parece tomada por manifestantes. Perto de um gramado, eu compro uma estrelinha do PT, sempre quis ter uma dessa.



(Impossível não lembrar do Poema "estrelinha do PT" de Tavinho Paes, pra quem não conhece segue o link - https://www.youtube.com/watch?v=0okPTETTOvo )

 

9:00 - Paramos numa rodoviária. Marcello, isso eu já havia diagnosticado antes, tem Síndrome de Coelho da Alice . Vai andando na frente do grupo, apressado e furando as multidões. A rodoviária de Brasília faz a Rodoviária Novo Rio parecer Chic.

Há muitas pessoas em situação de rua morando ali, e um cheiro insalubre empesteia o ambiente. No segundo andar, um sujeito perneta, se apoia em suas muletas e lança um chute invisível com sua perna fantasma no meio do peito de João Pedro, com a onomatopéia Pei !

 Vi um senhor de chapelão sertanejo segurando uma barraca de verduras. De vez em quando ele ralava uma chicória, cheirava uma alface, entediado comia uma bertalha.

 

9:15 - Todos comeram em um restaurante da Rodoviária, eu não quis, Marcello também não almoçou, mas comprou uma porção de torresmo colocada em um saco plástico. Guardou no bolso e ia comendo às vezes.

 

9:40 - Saímos da rodoviária. Não sei se o cogumelo começava a agitar a minha mente, mas a variedade das pessoas me chamava atenção. Um senhor de feições indígenas, bem baixinho e de terno me impressionou muito.  Enquanto esperávamos o grupo se reunir, um homem branco se dirige a mim, e ao Marcello perguntando se é a gente que está ali, vendendo as bandeiras exibidas em um varal.  Eu demorei para entender, acho que leva uma quantidade específica de segundos para assimilar uma situação de racismo. Então, insatisfeito, ele pergunta - Então quem é que está aqui?? (Aponta o varal de bandeiras.)

Com muita paciencia, olho para dentro de seus olhos verdes e digo - eu sei lá, porra!




 

10:00 - Começamos a nos encaminhar para a Esplanada dos Ministérios. Tudo parece muito perto. Há muitos ciclistas, muitos eleitores satisfeitos, orgulhosos. Grupos cantam gritos de guerra nos mais variados sotaques brasileiros. Farra de “S” sibiliados, E “R” retroflexos. Homens, Mulheres, Crianças, Idosos de esquerda com cara de que lutaram muito. (Sempre lindo de se ver!) Vemos o palco do Festival do Futuro.

 

11:00 - Entro em contato com meu querido amigo sulmatogrossense Oátomo. Vi, pelo instagram, que ele também estava no D.F. Trocamos muitas mensagens e localizações, mas não conseguimos nos encontrar. Outro amigo que também estava lá era meu querido Dj e Agitador Cultural Rodrigo Cavalcanti e sua namorada, a Dj Bota.

 

11:15 -  Sabendo que existe um limite de pessoas e de horário para entrar no jardim do Palacio do Planalto, começamos a acelerar o passo. A multidão se aperta. Passamos pelos Ministérios da Justiça, Ministério da Defesa, Ministério do Trabalho. Tudo em festa.

Da multidão, um grupo de senhoras começa a retornar, dizendo - já bateu o limite. Todos ficaram tristes, e pensaram em desistir. Eu resolvo duvidar das senhoras, seguimos em frente.


11:30 -  A estranha segurança do evento parece segurar grupos aleatoriamente. Uns conseguem passar sem problemas, outros são segurados. Dificil entender o critério.

 

11:35 - Um grupo de indígenas avança, sacudindo seus maracás. Um pai branco se incomoda com o empurrão de um dos indígenas. Eles traçam uma guerra de empurra empurra. O filho fica preocupado com seu pai, o Indígena que o empurrou não parece se arrepender. O pai, com orgulho ferido, continua empurrando. Faísca, quase sai porrada. Um indígena que estava atrás começa a dizer - Belo exemplo que você está dando para o seu filho! 

Alguém retruca - Ele tá dando exemplo que não se deve furar fila! 

Reparação Histórica tem dessas coisas.

 

11:40 - O grupo que estava na minha frente tem a passagem bloqueada. O bloco de indígenas consegue passar bem do meu lado. Eu dou um passo para o lado, e sigo junto.

Um aroma adorável começa a subir, é Pau Santo, eu reconheço. Localizei uma mulher indígena andando com uma espécie de caldeirinha donde a erva queima.

 

11:45 - Hora da Revista! Enquanto eu escolhia para qual P.M eu mostraria o conteúdo de minha bolsinha, deu tempo de retirar o isqueiro (que eu sabia que era proibido), e um enorme baseado. (que eu não sabia ao certo se podia ou não, rs) Tendo um em cada mão, no interior do punho do casaco, abri a bolsinha e mostrei pro samango. Mas, lá estava ela!

Minha caneta de escrever que eu levei pra construir o esboço desta crônica. 

 

-Não pode caneta não. O senhor quer voltar e deixar com alguém ou botar nessa caixa aqui? ( mostra uma caixa cheia de itens recolhidos)

-Vou poder pegar de volta?

-O senhor pode tentar.

-Você vai estar aí na volta? (Olho o nome na identificação)

-Não.

Penso: foda-se, e entrego minha canetinha pro meganha.

Entro, olho para trás à procura dos amigos, logo eles entram também.

Quando percebo quantas pessoas estão entrando atrás, proponho tirarmos uma foto, 

é essa —------>>>



 

12:00 - Chegamos no Palácio do Planalto para descobrir que a posse seria só às 4:20.

O sol agia como bolsonarista, derrubava senhores e senhoras indefesas. Senti suas pancadas direto na nuca, sol na moleira, sol no quengo! Não existe morro, não existem serras , estamos no Planalto! De vez em quando um vento vem espanar a dor do calor.

 

13:00 - O trabalho dos Bombeiros foi essencial. Com mangueiras, jogavam jatos para o alto na direção das pessoas. Entravam na multidão e resgataram pessoas que não resistiram aos raios ultra violentos.

 

14:00 - Nuvens fingiam-se de Montanhas quando eu mirava o horizonte .Pedimos o jato dos bombeiros. Surge um grito coletivo interessante : Aqui atrás! Aqui atrás! O povo grita em busca de hidratação. Vou até os três irmãos e digo  

- poxa gente, acho que a água não vai chegar aqui não

Na hora ,João Pedro convicto, vira para mim e diz

 - O que? Você viu o tamanho da mangueira??!!! 

Todos riem muito.

 

15:00 - Acendo o baseado. Marcello assustado diz Apaga Apaga!  Quando eu olhei eram só os bombeiros. 

Porra, cara ainda bem que eu não apaguei.

A massa se dirige a um camarote da imprensa e exige :

 

-FORA JOVEM PAM!  FORA JOVEM PAM!

 

entro na dança reforçando o coro. 

 

15:30 -  A multidão aumenta, o telão começa a mostrar o Presidente Lula, e seu primeiro discurso. Quando ele fala da caneta, um rapaz atrás de mim parecia já conhecer a história. Tem um sotaque muito nordestino, é do Piauí também.  Quando no telão apresentam o presidente do congresso, o mesmo rapaz do Piauí na hora já diz animado: Xandão!!!

Aí, o narrador do telão completa: Rodrigo Pacheco. Eu não resisto ,e virei rindo para ele, que me diz: Pensei que era o Xandão!!

 

15:45 - Vaiaram o discurso de Rodrigo Pacheco. Um carioca ao meu lado reclama que nenhum de seus amigos quer fumar o bec dele com ele. Auxilio o conterrâneo.

Acho muito bonita a quantidade de crianças que estão ali, vendo adultos como eu se emocionando com as palavras de Luiz Inacio sobre justiça social, objetivos cívicos, deveres de um governo para com seu povo. Agora lembrando eu choro de novo. Penso que tem que ser estudados em sala de aula os discursos do presidente. Um bom discurso sempre me faz pensar numa boa redação. Menos pela perfeição formal, e mais pelo conteúdo necessário, ainda mais depois de quatro anos de uma liderança negligente e ignorante como a que tivemos. O discurso de Pacheco parecia uma repetição pobre das ideias de Lula, o famoso “copia mas não faz igual.”

Pedem um minuto de silencio para o rei Pelé e para o Papa. Mas a multidão republicana não se sente em divida com monarquia ou com o papado, e resolvem citar o nome de civis que realmente fizeram a diferença em nossa sociedade, e morreram por isso:

 - Marielle, Presente! Mestre Moa do Catendé, Presente! Kethlen Romeu, que foi assassinada pela P.M.R.J ainda grávida, pensei no menino assassinado na Maré, também pela polícia militar com uniforme de colégio, Marcus Vinicius. 

Que mané Papa, que mané jogador de bola o que . . .

 

16:00 -  Alvoroçados, cansados, molhados e suados. Pessoas com deficiência, travestis, agroboys, um alegre sósia de LULA com chapéuzinho de cangaço e faixa presidêncial, crianças, mães e pais, gente que entrou com cadeirinha portatil, lábios finos, lábios carnudos, cartazes de protesto, cartazes de apoio. As fashion, os grunge, as hippie, senhora com bandeira de pernambuco, Camisas da cbf, camisas vermellhas, camisas verde e amarelas. 

Uma voz avisa que o presidente está vindo, e pede para que desliguem os celulares.

Um enorme ponto de interrogação flutua sobre a multidão assim 

- ã?????




 

16:20 -  Todos os celulares se levantam, para saudar e capturar a imagem da terceira posse do presidente. A multidão insiste

- A-bai-xa!  A-bai-xa!  A-bai-xa! 

Mas ninguém abaixa nada não.  

Tentei filmar também, mas é tudo muito distante e cheio.

Entre os pedidos do povo, de vez em quando voltava um :

 - Dilma, passa a faixa!

Alguns gritam

 

- LEGALIZA LULA!

 

17:00 - Apesar da beleza e importancia do discurso meu corpo estava muito cansado. E alguma coisa na estrutura da cerimonia me parecia pomposa e arcaica. Particularmente todo o aparato militar, aqueles soldados que ficaram parados feito estátuas, simbolizando e realizando a função central das forças armadas, nenhuma.

Durante o discurso no parlatorio tive a sensação de estar no pronunciamento de um rei medieval. Claro, isso é uma critica a estrutura historica do ritual de posse presidencial, que teve ao menos, varios protocolos escangalhados! E repaginados, revolucionados nesta cerimonia específica.

Gritei com todas as pessoas o nome da cadelinha presidencial Resistencia. E acho que é preciso criar uma PEC para que daqui para frente, todo presidente que se preze tenha o seu vira-latinha.

 

17:30 - Durante o discurso no parlatório, um grito chamou atenção. “Sem Anistia!” Surgiu assim que o presidente disse que não busca vingança, mas sim responsabilizar a omissão do governo anterior diante da crise pandemica do COVID-19. Me chamou muito a atenção que, o presidente parou de falar para escutar e entender o grito do público.

 



18:00 - O evento termina. Mover-se em multidão é muito lento. Um casal tira onda dizendo que isso não é nada comparado com os Quatro cantos em Olinda.

 

18:30 - Ao sairmos, Aloisio Mercadante é revelado no meio da multidão. Eu não sei exatamente quem ele é, mas sei que é político do PT. Está de terno, de mãos dadas com a pequena filha, quando é reconhecido, é abraçado por parte da multidão em dissolução, que lhe pede fotos e diz o seu nome Mercadante, Mercadante, uma foto, Mercadante!Para mim, ele parecia um fantasma, uma colagem, uma figura que se destaca contra o cenário do evento. Subindo de volta a ladeira que descemos até o palácio, vemos `a distancia Sonia Guajajara chegando numa espécie de estacionamento.





Decidido, eu resolvo interpelar algum PM para reaver a minha caneta!

Caminho até um grupamento deles perto de onde eu tinha sido revistado. Expliquei ao oficial a minha situação. Ele coçou atrás da orelha e disse:

- Tudo que tinha nas caixas, a gente COLOCOU ali.

E aponta para um gramado, onde vários objetos foram despejados como se lixo fossem.

- Po, voces jogaram no chão?

- A gente COLOCOU ali. Se quiser, pode ir olhar.

 

Na hora eu pensei na história da caneta que Lula contou. Também lembrei de uma polemica de caneta que o Bozo usava para pagar de humilde. Revirando a porcaria que os PMs fizeram com os pertences das pessoas, achei 3 isqueiros, uma caneta vermelha, e uma baqueta de bumbo.

 

19:00 - Saímos completamente dali, chegamos no palco do festival do futuro, onde os grandes artistas de Brasília Gog e Ellen Olleria se apresentavam. Mais amigos do Marcello apareceram e um deles eu conhecia do teatro, era o Pablo.


 

19:15- Ellen Olleria anuncia - Com voces Rappin Hood!

Um homem preto de casaco do PT se assusta muito, arregala os olhos e diz:

- PLEBE RUDE??!

Eu acho hilario e o ajudo - Não, Rappin Hood!

Ai, ele faz Ahhhhh.

 

19:30 - Consigo contatar meu amigo Dj Rodrigo. Ele diz estar próximo, e logo aparece. Aperta um baseado que fumamos juntos enquanto Salgadinho cantava seu hino Inara.

 

20:00- Cai a ficha em todos nós que teremos que retornar ao onibus até as 22h.

Cai a ficha em todos nós que perderemos o show do Baiana System com Margareth Menezes, e principalmente o show da Pabllo Vittar.

Paulo Miklos canta “comida” refrescada com uma batida de afrobeat.

Otto canta Ciranda de Maluco e consegue errar uma parte.

Johny Hooker canta “Flutua”.

Geraldo Azevedo e Chico César cantam uma do Geraldo que agora eu não me lembro.

Fernanda Takai tocou um negócio meio Jovem Guarda, tipo Wanderléia.

Lirinha tocou uma versão meio frevada de ‘Chover”, mas não choveu.

 

21:00 - Deitado no gramado eu aprecio o trabalho de vídeo do festival. Animações interessantissimas, frases como “ amar é complexo” E trechos do discurso do presidente de poucas horas atrás “não existem dois brasis.” Um fantástico show visual completamente em cooperação com o apoteótico palco Elza Soares. Um palco enorme, com canhões de luz rasgando o céu de Brasilia.

A unica parte estranha era a cabine de som, que fora posicionada bem na frente do palco, dificultando muito a visibilidade dos shows. Mas o número de telões supria bastante este problema. Inclusive, as tres estrelas do centro do palco, simbolizando o terceiro mandato de Lula, também eram telões, e as vezes mostravam imagens dos shows.

 

21:30 - Começamos a retornar ao estádio. O festival começa uma homenagem a Pelé, com uma música do Simonal que eu nunca tinha ouvido. Enquanto saíamos, eu prestava atenção nela ,as vezes olhava o telão ,mas tinha medo de me perder. Era o pelé jogando bola, e aquela música magnífica do Simonal, falando sobre ele.

{Se alguém souber o nome da música, pode colocar aqui. Isso considerando que tenha alguem lendo esse bando de letrinhas.}

 

21:40 - Matheus diz que o céu parece que tem profundidade e curvatura. Uma cúpula, uma tampa de manteiga , uma redoma. Continuamos retornando `a avenida que descemos pela manhã. Parece muito diferente aberta para o transito sob as luzes noturnas. Motos pomposas da Policia Rodoviaria Federal ostentam suas sirenes.

 

22:00- Charles nos recepciona perto o onibus. Apesar de sempre simpatico, nos recepciona com certa urgencia, como se fossemos os unicos faltantes para o onibus arrancar. “A serra ta um engarrafamento que só passa um onibus por vez!!”

Mesmo com essa urgencia, o onibus só foi sair após sessenta minutos.

Neste meio tempo, o coordenador Paulo nos conta que o coroa lendário, que havia se perdido, depois foi realocado com todas as mordomias em outro onibus, estaria conosco novamente. O motivo que causara o retorno:

Passou a mão em mulheres enquanto elas dormiam!

Todos lamentam a noticia, e redobram a atenção em relação a ele. Então, é a primeira vez que eu o vejo. Baixinho, embreagado, boca mole.

Recebo um zap de Marcello avisando que eles estão fumando um. Saio do onibus,Marcello e os tres irmãos Yuri, João Pedro e Matheus estão sentados bem no pé da escada do onibus. O coroa embreagado se aproxima. Oferece uma estranha revista de moda em troca de cumplicidade. Promete que em Minas, a próxima cachaça ele paga. Quando entra pra pegar outra revista, eu conto pro Marcello sobre o assédio.

 

22:30 - Lula sobe ao palco do festival e faz outro discurso. Fala sobre a importancia da cultura, beija a primeira dama de lingua, ai papai.

 

23:00 - De volta a estrada!

 

02.01.2022

 

4:00 - No posto em Sete Lagoas MG, proximo ao monte de pedras, forma-se uma fila descomunal. Todo mundo exausto, enfileirado para tentar ver se tinha algo que valia a pena comer. Quando eu reparo que além da fila para entrar, ainda teria a fila pra comprar, opto por desistir e voltar a dormir, já que para isso não precisa fila.

 

12:00 - Na parada de Caetanópolis, volto com os tres irmãos até o posto onde compraram a cachaça. Estou faminto e pobre. Curiosamente, o pão com linguiça custava 15 reais, enquanto o pão de queijo com linguiça custava 11,50. Tive que provar, serviu para calçar o buraco no estomago. Paquerei um pave. Perguntei quanto era, a moça disse que “só pave era 7,50!” E agora que eu já tinha visto?

 

13:00 - O sotaque da moça que vendeu o pave era muito mais gostoso do que o próprio doce. No fim das contas ele era só pave mesmo . . . Cuidado com o poder persuasivo do sotaque mineiro . . .

 

14:00 - Graal de Juiz de Fora,a chuva junto com o Sol pintam uma longuíssima bandeira LBTQIA+ no céu.

Nesta parada os tres irmãos compraram nova cachaça. Paramos para fumar nosso ultimo bec. Havia uma espécie de museu aberto, com carros e utensilios antigos. Tiramos algumas fotos engraçadas. O coodenador Paulo bebe conosco. Se mostra um entendedor de cachaça e explica que existe a cachaça de cabeça e a de pé. A de cabeça é mais forte, a de pé é mais fraquinha. Quanddo voltamos ao onibus, percebemos que o coroa sumiu novamente. Alguem vai busca-lo e o encontra.






 

17:00 - Uma cidade com o nome maravilhosamente propicio: Ressaquinha. Parece cenografica. Um açougue tem a placa escrito: Açougue Do Zezinho.

Entro em um dos armazens: queijos frescos, um mel que parece ótimo, salgados e docinhos. Matheus compra um mel de 20 reais. Eu só tenho 25 mas quero comprar também no entanto, entro no estabelecimento ao lado. Mulheres cozinham quentinhas a partir de 15,00 Reais. Tem batata frita, e uma familia feliz almoça. Não resisto ao cenario, e compro : arroz, feijão, linguiça, batata e couve . . . . tudo perfeito!

Quando retorno ao onibus, vejo o motorista reclamando - De novo esse velho!

Aparentemente, o coroa tinha ido atrás de uma fonte de agua benta nos fundos da igreja de Ressaquinha . . . provavelmente precisaria enfrentar um vampiro.

 

19:00 - Ofereço o doce de casca de laranja para várias pessoas do onibus. Muitos se impressionam, pedem a receita. A senhora professora de linguas elogia o meu doce para pessoas sentadas mais na frente. Fico orgulhoso, mas nem acho ele tão delicioso assim. O elogio era muito mais saboroso do que o doce.

 

20:00 - A cachaça faz sua mágica. Marcello e Paulo gritam como quem está prestes a rasgar a propria camisa de euforia - Pedra do Sal!!!

 

21:00 - O motorista oferece aos tres irmãos descer na Ilha do Governador, de onde eles são. Bebados e felizes, eles recusam na esperança de ir para a Pedra do Sal.

 

22:00 - Fundos da Central do Brasil, RJ. João Pedro percebe que perdeu seu celular.Os amigos procuram enquanto a maior parte dos passageiros desembarcam.

Aparentemente Carlinho e o Coordenador Paulo se desentendem. O motivo eu nao vi, só escuto os xingamentos - voce é um safado!

Ninguém vai mais pra Pedra do Sal.

 

22:20 - Eu,Marcello e Clarissa esperamos um Uber para o Andaraí.

 

22:30 - Chegamos na rua deles. 

Satisfeito, eu agradeço pelo convite e pelos momentos inesquecíveis.

 

22:45 - Entro em casa pela primeira vez em 2023. Um feliz ano novo.