sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Sexta Feira 13 de 2013

II 
        O EXAME DA MEIA-NOITE

Meia-noite. O relógio soa
E nos induz, em tom mordaz,
A recordar que uso fugaz 

Fizemos do dia que escoa:
- Hoje, treze, data fatal, 

Sexta-feira, nos comportamos, 
Malgrado tudo o que exaltamos, 
Como discípulos do mal;

Contra Jesus, o mais glorioso 
Dentre os deuses, temos pecado! 
Como um parasita sentado
À mesa de um Creso monstruoso, 

Cada um de nós, gratos à Besta, 
Do Demônio a súdita eleita, 
Insulta aquilo que respeita
E adula aquilo que detesta;

Ao humilde o nosso desdouro 
Mostramos com dura arrogância; 
Saudamos a enorme Ignorância, 
Com sua cabeça de touro; 
Beijamos a torpe Matéria
Com toda a nossa devoção, 
E abençoamos da podridão 
A bruxuleante luz funérea.

Enfim, para afogar de vez
A vertigem no que delira,
Nós, os sacerdotes da Lira,
Cuja glória é louvar a ebriez
Do que a morte acaso dissolva, 

Sem apetite algum comemos...
- Depressa, a lâmpada apaguemos 

Para que a treva nos envolva! 






de "Novas Flores do Mal" de " As flores do mal" de Charles Baudelaire. Traduzido por Ivan Junqueira.




L'Examen de minuit

La pendule, sonnant minuit,
Ironiquement nous engage
À nous rappeler quel usage
Nous fîmes du jour qui s'enfuit:
— Aujourd'hui, date fatidique,
Vendredi, treize, nous avons,
Malgré tout ce que nous savons,
Mené le train d'un hérétique.

Nous avons blasphémé Jésus,
Des Dieux le plus incontestable!
Comme un parasite à la table
De quelque monstrueux Crésus,
Nous avons, pour plaire à la brute,
Digne vassale des Démons,
Insulté ce que nous aimons
Et flatté ce qui nous rebute;

Contristé, servile bourreau,
Le faible qu'à tort on méprise;
Salué l'énorme Bêtise,
La Bêtise au front de taureau;
Baisé la stupide Matière
Avec grande dévotion,
Et de la putréfaction
Béni la blafarde lumière.


Enfin, nous avons, pour noyer
Le vertige clans le délire,
Nous, prêtre orgueilleux de la Lyre,
Dont la gloire est de déployer
L'ivresse des choses funèbres,
Bu sans soif et mangé sans faim!...
— Vite soufflons la lampe, afin
De nous cacher dans les ténèbres!
— Charles Baudelaire
























sexta-feira, 6 de setembro de 2013

7 de setembro de 2013


Segundo Dia 




Sou anarquista.Declaro honestamente 
(a tarde vai cerzindo no recreio   
o pano de entrecortada confissão.) 
Espanto, susto. Como? 
O que? Por que? Explica essa besteira. 

A solução é a anarquia.Sou 
anarquista. Nem de longe vocês captam 
o sublime anarquismo.Sou. 
Com muita honra.Mas vocês ,que são? 
Vocês são uns carneiros 
de lã obediente. 

Zombam de mim. Me vaiam: Anarquista 
a-nar-quis-tá   a-nar-quis-ta-tá! 
(Medo de mim,oculto em gozação?) 
O bicho mau,o monstro repelente 
conspurcando o jardim de Santo Ignácio. 

Avançam.Topo a briga. 
Me estraçalho lutando contra todos. 
Furor mil. Morro ensanguentado. 
Não. Não mato algum. Nem me 
tocam sequer. Negro e veloz,
chegou a tempo o Padre,e me 
salva do massacre porém não 
do apelido : 


             o Anarquista.   





Carlos Drummond de Andrade . ( Esquecer Para Lembrar - Boitempo 1.)

                                                          PUERI DOMUS





esta criança brincando de luta
desprotegida da lua aos
pés de Santa Tereza sou eu! Você já usou o minuto para 
considerar que enquanto você usa o minuto para
considerar:
um garoto bem pequeno está encontrando
seu rosto contra o chão em sua                   –eterna-
primeira queda de skate na Pça Roosevelt?
Este garoto também sou ele. Sou também
aquele nóia pichando versos pueris
do tipo “eu vi seu nome escrito
na bunda do mosquito.”
por cima da parede 
chapiscada onde se escora a existência.

Na última lágrima que o último capítulo da nove-
la arranca da Dona de casa antes que
ela volte a se dar conta do horror da vida real ,
há uma manifestação                                     – que começou pacífica-

de minha presença danadamente eterna e
eternamente danada .