sexta-feira, 6 de setembro de 2013

7 de setembro de 2013


Segundo Dia 




Sou anarquista.Declaro honestamente 
(a tarde vai cerzindo no recreio   
o pano de entrecortada confissão.) 
Espanto, susto. Como? 
O que? Por que? Explica essa besteira. 

A solução é a anarquia.Sou 
anarquista. Nem de longe vocês captam 
o sublime anarquismo.Sou. 
Com muita honra.Mas vocês ,que são? 
Vocês são uns carneiros 
de lã obediente. 

Zombam de mim. Me vaiam: Anarquista 
a-nar-quis-tá   a-nar-quis-ta-tá! 
(Medo de mim,oculto em gozação?) 
O bicho mau,o monstro repelente 
conspurcando o jardim de Santo Ignácio. 

Avançam.Topo a briga. 
Me estraçalho lutando contra todos. 
Furor mil. Morro ensanguentado. 
Não. Não mato algum. Nem me 
tocam sequer. Negro e veloz,
chegou a tempo o Padre,e me 
salva do massacre porém não 
do apelido : 


             o Anarquista.   





Carlos Drummond de Andrade . ( Esquecer Para Lembrar - Boitempo 1.)

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