domingo, 14 de junho de 2009

Guindaste a rigor




Eu quero um trem de doze vagões
Pra marcar o compasso pois eu vou cantar
Quero dez máquinas de concreto
Porque não gosto de violino
Quero um discurso do Nero
Para fazer contraponto
Doze motocicletas no lugar do contrabaixo
Para reger o conjunto, um guindaste à rigor
E na hora do breque um belo assopro de coca-cola
Ah, ah, ah que cola
A tonalidade é ré sustenido bem claro
Ou mi colorido bemol
Sidomidelamefalasemsirelanemsolfa

Para parceiro na letra
Satanás de babydoll
Ou um camundongo sádico que tem a língua vermelha
E no fim da primeira parte beije a Brigitte Bardal

Mas, ora, veja:
Enquanto eu cantava
O verbo enganado
Com a língua do poeta enrolada no pescoço
Pendurado sem socorro
Já parou de balançar as pernas
Já parou de balançar as pernas
Já parou de balançar as pernas
Já parou de balançar as pernas
Já parou

terça-feira, 9 de junho de 2009

Os Mutantes

só para deixar aqui um salve para minha banda preferida.

sábado, 6 de junho de 2009

Georges Franju em entrevista.


"Voltando ao que eu disse sobre o fantástico,o espetáculo.Eu não gosto,isso não me interessa.Não me emociona e eu não acredito. Não acredito,porque desde criança nunca acreditei em contos de fadas.Eles eram muito chatos.Por outro lado,a realidade me encantava e ás vezes me assustava. Em outras palavras,adoro as imagens que me fazem sonhar mas não gosto que alguém as sonhe para mim."

Georges Franju é o cineasta francês.

Bela paisagem apaixonante da bailarina no metrô.






porta de metrô,

propondo aquele débil samba de cotovelos...


aqui(metrô)se lê jornal.


vagueio vagabundo

da sães pena até copa


figuro sobre as coisas,figuro sobre as cores e figuro sobre a figura do maneta na sociedade episcopal.


ha um lugar vazio e entra no vagão

um sujeito,os dois se olham mas apesar da clara empatia

vem a gorda e senta


e a vida prova sua excelência em desalojar

comprovamos


eu,sujeito agarrado em barra também.

eu porém agarrado mais em meu caderno.Quase que com a boca..

entra uma bailarina

elas costumavam me emocionar mais...


c'est copá.(problemas de digitação me levaram ao francês)


uma gringa sem soutien atravessa a rua de copa

o mar sem soutien não.( e deus que me livre como diria minha prima avó albertina)


o preço da mad é a única

de suas piadas que me barbariza.

sigo,

meto no shuflle,confio no shufle...oh Wes Montgomery..dubadu.

domingo, 31 de maio de 2009

Distinções ou ( A dos ursos)


A dos ursos...

Para iniciar uma reflexão,o primeiro funcionário do zoológico dirigiu-se com a cara cheia de dúvidas para o segundo.

(este que amamentava um filhote de coelho)



Gumercindo - Há neste mundo,gente para caralho,ou não?

Miranda -De certo que sim.

Gumercindo -Pode se querer que todas gostem das mesmas coisas da mesma forma?

Miranda -A unanimidade é uma utopia.

Gumercindo -Então,realidade é um conceito elástico,assim como certeza,gosto e opinião.

Miranda -Não queira começar pinimba alguma.(ele vai saindo para a segunda cela de animal como quem foge do amigo,e ergue um jabuti)

Gumercindo -Vamos lá,me ilumine.

Miranda -Iluminar?Eu te conheço...você dormia em toda aula de vagalume.Quer é bagunçar o coretto!Quer saber?Quando um não quer dois não brigam...mudemos de assunto.

Gumercindo -Tudo bem.(pegando outro o coelho na cela ao lado e amamentando o) Agora escute,vinha eu de ônibus para cá hoje pela manhã,quando vi algo que me balançou a vida toda...

Miranda -Hã.

Gumercindo -Só um pouco,meu telefone está tocando.(verifica e vê que não está) engraçado,eu sempre ouço esta porcaria tocar,até quando ela está no modo silêncioso eu sinto umas vibrações nos bolsos e pernas.E o pior é que quando toca mesmo,ou vibra,eu sou ruim de ouvir.Ouço só quando não toca...que maldição.

Miranda - Insanidade mesmo.

Gumercindo -Como eu ia dizendo.Eu estava vindo pra cá no 438 quando vi no meio da rua as tais luzes espalhafatosas de quando tem alguma autoridade por perto.

Miranda -Autoridade,polícia?

Gumercindo -Sim,autoridade polícia,mas mais significativo ainda...ambulância.

Miranda -Acidente é foda quando tem.(concentra-se em outra tartaruga)

Gumercindo -Pois é,e foi perto de uma blitz da lei seca.

Miranda -Rapaz,eu vi que pessoas paraplégicas trabalham nestas blitz...Fico pensando se não estão fazendo algum trabalho voluntário,vai que causaram danos...a terceiros em acidentes com bebida no transito.

Gumercindo -Deve ser isso mesmo.Ao menos eles mergulham encarando os seus traumas...impedindo que outros escorreguem no buraco onde eles escorregaram.


(Miranda medica alguns jabutis,volta para a cela dos coelhos.Gumercindo vai até os jabutis)


Gumercindo -e o que eu vi perto da blitz fez a maioria das pessoas de dentro do ônibus se levantar para tentar achar algum corpo estendido no asfalto.Não é horrível?

Miranda -Nego só queria saber o que é que tinha acontecido.

Gumercindo -Poxa,era acidente...estávamos caçando corpo!Caçando medo.Buscando olhar no rosto de uma desgraça,um desconfortozinho uma sacudidela n'alma.

Miranda-Você estava?

Gumercindo - Eu.Estava.

(parece que Miranda para tudo que está fazendo.Ele sai da cela,e ergue as mangas da camisa e a bainha da calça.A próxima cela para onde se dirige parece pantanosa.Ele respira fundo e vai entrando no lago imerso entre hipopótamos enquanto fala com paciência)

Miranda - morte pra você.É coisa séria?Só de falar nela?És capas de brincar com este conceito?Pensar sobre mortos-vivos,espíritos brincalhões,pós-mortem decepcionante?

Gumercindo -Sou bem.Bem o sabes.

Miranda -Então.Você só queria ter um encontro rápido com o real.Ver a realidade passando na rua de noite,pela janela de um ônibus.Como se visse um ator famoso que interpreta num sei quem em num sei que filme...você,que só via o personagem.Que só conheçe a morte de ouvir falar na vida,ou pela morte dos seus queridos quando isto vem a acontecer.(submerge,volta e dá verduras aos hipopótamos)Queria vê-la pela rua,que mal há em sentir terror?

Gumercindo - O cinema vive disto.

Miranda -O teatro vive disto.Nós vivemos disto.A segurança vive disso,o respeito vive disso...

(é chegada a hora e Gumercindo entra em sua última jaula.A dos ursos)

Miranda-Viste algum corpo?

Gumercindo(.Enquanto adentra a sela)-Não vi nada.No início,quando vi o poste caído,os estilhaços pelo chão,as famílias chorando.Eu só conseguia pensar em achar um corpo estendido...eu via as pessoas tremendo com o calor do momento que para mim não passava de banalidade.Uma dona,dessa eu não me esquecerei fácil,se descabelava com os olhos agarrados no céu deixando a entender que era mãe da vítima.O motivo das suas lágrimas já não estava ali provável...eu me senti pouco sensível,mas minha curiosidade brigava vorazmente com meu temor de ver...o morto.

(neste momento um dos ursos morde com violência extrema o braço esquerdo de gumercindo,este grita se desepera.Atormentado,aturdido,assustado.A cena é horrível,o sangue jorra,Gumercindo ensanguentado vai ao chão.O urso ainda está agitado.Miranda quando vê o que está acontecendo vai saindo da lagoa pantanosa,mas os hipopótamos se juntam e o peso só faz Miranda chafurdar)

Miranda - Estou indo Gumercindo.

Gumercindo -Miranda...agora eu entendo.O contato furioso com a existência que o Drummond falava...agora só...quando eu estou prestes a perder esse meu contato.Estou perdendo artérias,sangue,memórias.Miranda eu estou me esquecendo das coisas...só não vou me esquecer se me safar vivo de que estarei vivo,mas sem um braço!

Miranda -Eu...não...aguento...eles estão me esmagando!E sufocando nesta lama.Eu também consigo sentir o peso lancinante de existir....Se eu apenas pudesse, como você ouvir o telefone tocar quando não toca,sentir vibrar quando não vibra...eu estou sentindo as coisas como elas são!

Gumercindo (com os olhos horrívelmente arregalados)- Só agora eu entendo lou reed.

Miranda -Vou me sentir um merda se eu continuar vivo,sabendo que você morreu.Ou que perdeu um braço...ou que anda ouvindo Lou Reed!

Gumercindo - Há ou não gente para caralho no mundo?(enfraquecendo e sumindo)Realidade não é um conceito elástico.
Miranda - Não queira terminar pinimba alguma.(ploft com o corpo na lama.)



*contarei esta história sempre que me pedirem :" aí conta aquela...A dos ursos"

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Ainda sobre a literatura caótica...


Já ouvi comentários de fundos maliciosos sobre a excêntricidade de minhas escolhas poéticas, e muitos destes tecelões acham o Djavan tranquilo.
Sugiro,por isso, que ouçam esta deliciosa canção que atende a categoria que eu chamo de samba turbulento ou catastrófico.

Numa esquina de Hanói

Um é par de dois
Quer ver, verás
Irei a ti pra viver
Depois morrer de paz
Ou não...
Quem saberá?
Ficarei sabedor se você temperou no sal
Ou se salobro nós
Me atiro, cívico
Aos meus amigos de varar a noite
Trazás nó cego, dirás
E eu rirei, pecador
No que você corará mais
E de cor entregarás
A minha alma viva e depenada para o satanás
Que enfim, quiçá lhe trai indiferente a mim
Que não lhe significa nada mais do que um lobo atroz
Perdido numa esquina de Hanói
Perdido numa esquina de Hanói
(djavan)

Lendo Moby Dick...


Sobre Bulkington,o timoneiro.
"Você parece divisar vislumbres daquela verdade mortalmente intolerável : a de que todo pensamento profundo e grave é apenas o intrépido esforço da alma para conservar-se na livre independência de seu mar,enquanto os ventos mais bravios do céu e da terra conspiram para lançá-la na costa traiçoeira e servil.
Mas como no sem-terra apenas reside a mais alta verdade,sem praias,infinita como Deus - assim é melhor perecer nesse ululante sem-fim,do que ser ingloriamente arremessado a um abrigo,ainda que ele seja a segurança!"



daí a vontade de ir-se embora.