quinta-feira, 28 de maio de 2009

Ainda sobre a literatura caótica...


Já ouvi comentários de fundos maliciosos sobre a excêntricidade de minhas escolhas poéticas, e muitos destes tecelões acham o Djavan tranquilo.
Sugiro,por isso, que ouçam esta deliciosa canção que atende a categoria que eu chamo de samba turbulento ou catastrófico.

Numa esquina de Hanói

Um é par de dois
Quer ver, verás
Irei a ti pra viver
Depois morrer de paz
Ou não...
Quem saberá?
Ficarei sabedor se você temperou no sal
Ou se salobro nós
Me atiro, cívico
Aos meus amigos de varar a noite
Trazás nó cego, dirás
E eu rirei, pecador
No que você corará mais
E de cor entregarás
A minha alma viva e depenada para o satanás
Que enfim, quiçá lhe trai indiferente a mim
Que não lhe significa nada mais do que um lobo atroz
Perdido numa esquina de Hanói
Perdido numa esquina de Hanói
(djavan)

Lendo Moby Dick...


Sobre Bulkington,o timoneiro.
"Você parece divisar vislumbres daquela verdade mortalmente intolerável : a de que todo pensamento profundo e grave é apenas o intrépido esforço da alma para conservar-se na livre independência de seu mar,enquanto os ventos mais bravios do céu e da terra conspiram para lançá-la na costa traiçoeira e servil.
Mas como no sem-terra apenas reside a mais alta verdade,sem praias,infinita como Deus - assim é melhor perecer nesse ululante sem-fim,do que ser ingloriamente arremessado a um abrigo,ainda que ele seja a segurança!"



daí a vontade de ir-se embora.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

{caos} A literatura hoje precisa ser caótica.{caos}


partia eu pra cima de uma bela edição de Moby Dick.Capa bem dura,um puta baleião no meio,e água até as bordas.Cumprimentei o dono do sebo,com quem mantenho relação comercial intensa e perguntei-lhe o preço,isso depois de ter procurado por ele e não achado em parte alguma do livro...o cara não teve maiores dificuldades.Encontrou o preço e rápidamente diminuiu primeiro dois reais e depois mais outro real,cobrando 14 pelo clássico de Herman Melville,uma de minhas veias consumistas tremulou na minha testa causando um pequeno espasmo.Ui.
"Já leu?"Perguntou-me.
Respondi-lhe a negativa e o homem amaluqueceu-se.Levou os olhos para cima e sem parar de tirar livros de uma arca e depositá-los na vendinha disse,visivelmente lembrando-se dos prazeres que o livro já havia proporcionado a ele

-Este livro é do tipo de literatura que altera físicamente.Onde o sujeito para perseguir o seu objetivo,acaba sofrendo mudanças físicas,mudanças fortes.A literatura tem que te alterar no físico mesmo(deposita um Metamorfose no balcão),Walter Benjamin escreveu um livro defendendo o cinema pois os críticos da época estavam dizendo que cinema não era arte pois não era um produto único e sim multiplo e amplamente reprodutível.Mas não é isso que importa.Importa se a arte te ataca ou não,já leu Gilles Deleuze?
-ainda não,mas morro de vontade.
-O cara é foda.Diz que não se pode pensar cinema,diferentemente de como se pensa literatura,ou filosofia ou a porra toda,para ele é tudo o mesmo e deve ser pensado da mesma forma,o cara é foda.(dá um tapinha no metamorfose)
As pessoas se acostumaram a pensar literatura de uma maneira psicologica,através de significações,simbolismos...já vi muita gente dizer que o Samsa não virou inseto,que é metafórico,que é a posição do sujeito na sociedade,oprimido como um inseto:Uma porra.Literatura tem que alterar no físico mesmo,tem que ser caótico.Literatura hoje precisa ser caótica.

duas horas depois eu voltei lá e comprei a porra do livro...lábia é foda.

domingo, 24 de maio de 2009

massa cinzenta



massa cinzenta.



Daqui do início do século XXI,limiar da primeira década.Eu disseco uma cabeça jovem.Já sem idéias,oca mas de repugnância humana e com feições paternais,que me desconcertam a tal ponto que meu bisturi fica me escorregando da mão e caindo na bacia.Estou fumando e ouvindo João Donato.

Tenho sonhado em altíssima velocidade, por noite, vivo uma média de quarenta e sete histórias despreocupadas de seus finais e de intensidade na desenvoltura tão avantajada que minhas pálpebras têm rápidos espasmos noite a dentro.Vi sobre isto uma vez em um filme,e tanto o personagem quanto eu vemos este fenômeno com bons olhos.

O desgraçado que tive que tomar tanta coragem para analisar com dedicação científica,não devia sonhar com muita agilidade,isso é notável se examinadas as suas pálpebras.Também não carrega a expressão de quem em vida sonhou o suficiente.Inspira autoridade e cansaço.Dos sonhos que eu sonhei,será que algum já passou por esta cabeça?Sempre é possível: vivíamos no mesmo país,sujeitos a algumas mesmas influências nas idéias, ao mesmo Sol na carcaça.E além do mais,como tenho sonhado rápido,tenho sonhado muito e isto aumenta a probabilidade de termos tido já o mesmo sonho.

Quando recorto fora o tampão do topo da cabeça,consigo sentir cheiro dos raciocínios murchos que apodreceram e também de alguns desejos que morreram sem nunca se concretizar,para onde vão estas idéias que nunca se concretizam?Elas bóiam no cérebro enquanto você está vivo,mas e depois?Será que são tão do sujeito que vão embora junto com ele?Ou será que vão embora antes mesmo da morte: as idéias ficam guardadas na memória e quando a idade se adensa começam a escoar da pessoa, pelo xixi, pelas lágrimas e assim indo embora para tentar serem concretizadas pelas cabeças de outros?

As idéias não concretizadas são como os fetos abortados,a diferença é que o tempo de gestação de uma idéia só depende da memória do criativo e de sua afeição por ela,e quando penso afeição,me refiro a algo das profundezas da raiz desta idéia que vá condizer e ser irmão com algo das profundezas de quem a pensou,o parto só é feliz se quem vai parir já identificou o novo ser como um outro dele.Assim sendo,ao deixarmos de lado idéias que gritam para fazer parte da realidade,e têm muito de nós nelas,assassinamos possibilidades,dando razão ao mundo em detrimento a darmos razão a nós mesmos e as nossas opiniões,que quanto mais numerosas mais capazes de demonstrar ao mundo diversos aspectos de ser você.O João Donato acabou.

Está ficando tarde, assim que extrair este cérebro volumoso vou me deitar, estou curioso pelos meus sonhos,talvez dessa ansiedade dos segundos antes de dormir que eu vá sentir mais falta quando for dormir pela última vez.

Ele deita e ele morre

Mas nunca sentiu falta

Da tal ansiedade



*inspirado em Hamlet,inspirado no Samba da cabeça,inspirado em Sobre Café e Cigarros,e condizente com inquietações próprias.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Me começe para cima que aí eu não paro


abcissas

salpique o meu moi
no teu petit poi
e deixe de fora
as abicissas,
recorte as abcissas. (bordas de pão de forma)
explodindo pelos ares os conselhos tutelares
com orgias nucleares(napalm paulistana)

-só parte de mim te é beneplácita,
o resto é tramoia clandestina.Dissolva-me
mas toma cuidado,
excesso de moi
não tem vacina!

nos cadarços neurológicos tropeço,
cato cavaco na beira do precipício,
me conserve mas inove minha
forma.
Me termine mas estude meu início.
(if you start me up!)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

http://www.youtube.com/watch?v=pFIdwP4vbok

e seguindo o exemplo das tias mais generosas,dou aquela segunda fatia pra tu levar pra tua mãe,do pavê da tia Manuela,do bolo,da torta,do bem casado,da mousse...toma lá,pó levar.

por ter sido uma criança roliça,sempre mereci das tias as mais roliças fatias,do bolo,do pavê,da torta

http://www.youtube.com/watch?v=yXHqg6IIXvQ