-Sou?- Ela ergueu o espelho e fitou-o.
No espelho, uma cidade.
Londres,1991. Dez mil torres, o zumbido ciclônico de
trilhões de engrenagens a girar, todo o ar numa escuridão rompente, em uma
névoa de óleo, no calor do atrito das rodas emaranhadas. Negros pavimentos sem
emendas, incontáveis córregos afluentes para o curso frenético da malha
perfurada de dados , os fantasmas da história soltos nesta necrópole ardente.
Rostos da espessura do papel ondulam feito velas, torcendo-se, bocejando,
tombando pelas ruas desertas, rostos humanos que são máscaras emprestadas, e
lentes para um Olho esquadrinhador. E quando determinado rosto serviu a seu
propósito, ele desintegra-se, frágil como cinza, explodindo numa espuma seca de
dados, os fragmentos e as partículas que o constituem. Mas novas texturas de
conjecturas vão crescendo nos núcleos ardentes da Cidade, ágeis e incansáveis
fusos arremessados de laçadas invisíveis aos milhões , enquanto na quente treva
desumana os dados derretem e misturam-se agitados pelo maquinismo, até formarem
um esqueleto de pedra-pomes efervescente, mergulhado numa cera onírica que
modela a carne simulada, perfeita como o pensamento . . .
Não é Londres .
. . e sim praças espelhadas do mais puro
cristal, as avenidas são relâmpagos atômicos , o céu um gás super-resfriado,
enquanto o Olho persegue a própria visão através do labirinto, saltando
fissuras de energia que são causa, contingencia, acaso. Fantasmas elétricos são
lançados a existência, examinados, dissecados, iterados infinitamente.
No centro desta
Cidade, uma coisa cresce, uma árvore autocatalitica, em quase-vida,
alimentando-se por meio das raízes do pensamento da rica decomposição de suas
próprias imagens vertidas, e ramificando-se, por uma miríade de
galhos-relâmpago , para o alto, rumo `a luz oculta da visão,
Morrendo para
nascer.
A luz é
forte,
A luz é
clara;
O Olho por
fim tem de ver a si mesmo
A mim . . .
Eu vejo:
Eu vejo,
Eu vejo,
Eu
!
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