II
O EXAME DA MEIA-NOITE
Meia-noite. O relógio soa
E nos induz, em tom mordaz,
A recordar que uso fugaz
Fizemos do dia que escoa:
- Hoje, treze, data fatal,
Sexta-feira, nos comportamos,
Malgrado tudo o que exaltamos,
Como discípulos do mal;
Contra Jesus, o mais glorioso
Dentre os deuses, temos pecado!
Como um parasita sentado
À mesa de um Creso monstruoso,
Cada um de nós, gratos à Besta,
Do Demônio a súdita eleita,
Insulta aquilo que respeita
E adula aquilo que detesta;
Ao humilde o nosso desdouro
Mostramos com dura arrogância;
Saudamos a enorme Ignorância,
Com sua cabeça de touro;
Beijamos a torpe Matéria
Com toda a nossa devoção,
E abençoamos da podridão
A bruxuleante luz funérea.
Enfim, para afogar de vez
A vertigem no que delira,
Nós, os sacerdotes da Lira,
Cuja glória é louvar a ebriez
Do que a morte acaso dissolva,
Sem apetite algum comemos...
- Depressa, a lâmpada apaguemos
Para que a treva nos envolva!
de "Novas Flores do Mal" de " As flores do mal" de Charles Baudelaire. Traduzido por Ivan Junqueira.
Contristé, servile bourreau,
Le faible qu'à tort on méprise;
Salué l'énorme Bêtise,
La Bêtise au front de taureau;
Baisé la stupide Matière
Avec grande dévotion,
Et de la putréfaction
Béni la blafarde lumière.
O EXAME DA MEIA-NOITE
Meia-noite. O relógio soa
E nos induz, em tom mordaz,
A recordar que uso fugaz
Fizemos do dia que escoa:
- Hoje, treze, data fatal,
Sexta-feira, nos comportamos,
Malgrado tudo o que exaltamos,
Como discípulos do mal;
Contra Jesus, o mais glorioso
Dentre os deuses, temos pecado!
Como um parasita sentado
À mesa de um Creso monstruoso,
Cada um de nós, gratos à Besta,
Do Demônio a súdita eleita,
Insulta aquilo que respeita
E adula aquilo que detesta;
Ao humilde o nosso desdouro
Mostramos com dura arrogância;
Saudamos a enorme Ignorância,
Com sua cabeça de touro;
Beijamos a torpe Matéria
Com toda a nossa devoção,
E abençoamos da podridão
A bruxuleante luz funérea.
Enfim, para afogar de vez
A vertigem no que delira,
Nós, os sacerdotes da Lira,
Cuja glória é louvar a ebriez
Do que a morte acaso dissolva,
Sem apetite algum comemos...
- Depressa, a lâmpada apaguemos
Para que a treva nos envolva!
de "Novas Flores do Mal" de " As flores do mal" de Charles Baudelaire. Traduzido por Ivan Junqueira.
L'Examen de minuit
La pendule, sonnant minuit,
Ironiquement nous engage
À nous rappeler quel usage
Nous fîmes du jour qui s'enfuit:
— Aujourd'hui, date fatidique,
Vendredi, treize, nous avons,
Malgré tout ce que nous savons,
Mené le train d'un hérétique.
Ironiquement nous engage
À nous rappeler quel usage
Nous fîmes du jour qui s'enfuit:
— Aujourd'hui, date fatidique,
Vendredi, treize, nous avons,
Malgré tout ce que nous savons,
Mené le train d'un hérétique.
Nous avons blasphémé Jésus,
Des Dieux le plus incontestable!
Comme un parasite à la table
De quelque monstrueux Crésus,
Nous avons, pour plaire à la brute,
Digne vassale des Démons,
Insulté ce que nous aimons
Et flatté ce qui nous rebute;
Des Dieux le plus incontestable!
Comme un parasite à la table
De quelque monstrueux Crésus,
Nous avons, pour plaire à la brute,
Digne vassale des Démons,
Insulté ce que nous aimons
Et flatté ce qui nous rebute;
Le faible qu'à tort on méprise;
Salué l'énorme Bêtise,
La Bêtise au front de taureau;
Baisé la stupide Matière
Avec grande dévotion,
Et de la putréfaction
Béni la blafarde lumière.
Enfin, nous avons, pour noyer
Le vertige clans le délire,
Nous, prêtre orgueilleux de la Lyre,
Dont la gloire est de déployer
L'ivresse des choses funèbres,
Bu sans soif et mangé sans faim!...
— Vite soufflons la lampe, afin
De nous cacher dans les ténèbres!
Le vertige clans le délire,
Nous, prêtre orgueilleux de la Lyre,
Dont la gloire est de déployer
L'ivresse des choses funèbres,
Bu sans soif et mangé sans faim!...
— Vite soufflons la lampe, afin
De nous cacher dans les ténèbres!
— Charles Baudelaire
Nenhum comentário:
Postar um comentário